Juiz do Ceará chama mulher de “bicho de língua grande” e é afastado pelo TJ
O juiz Francisco José Mazza Siqueira foi suspenso de suas atribuições no Tribunal de Justiça do Ceará nesta quinta-feira, 10. A decisão foi deliberada por unanimidade. No desdobramento de uma audiência ocorrida em 26 de julho, o magistrado questionou o testemunho de mulheres que haviam apresentado denúncias de violência sexual contra o médico Cícero Valdizébio Pereira Agra.
Ao ouvir o relato de uma das vítimas, que alegou ter sido vítima de toques impróprios sem consentimento, o juiz questionou a credibilidade da acusação, alegando que ele mesmo havia sido assediado por mulheres em sua época como professor.
Entenda o caso do juiz do Ceará
Francisco mencionou ter tido alunas que se aproximavam “se esfregando” e enfatizou que ele estava lidando com adultos, não com crianças. Ele também mencionou que havia tomado medidas disciplinares em relação a uma das alunas em situações semelhantes.
“Tinha aluna que chegava se esfregando em mim — aqui não tem nenhuma criança, todo mundo é adulto — e dizia: ‘professor, não sei o quê, não sei o quê…’. Eu dizia: ‘minha filha, é o seguinte, quando eu deixar de ser seu professor, você faça isso comigo”, contou ele.
Em seguida, ele acrescentou a sua opinião sobre mulheres. “Quem acha que mulher é boazinha, estão tudo enganado, viu? Eita bicho… bicho de mão pesada, bicho da língua grande e que chuta as partes baixas é mulher.”
Mulheres culpabilizadas desde sempre
Em 2016, um levantamento conduzido pelo Datafolha expôs que mais de um terço da população brasileira atribui culpa à mulher em casos de estupro. Os resultados dessa pesquisa, encomendada pelo FBSP, refletem que 42% dos homens e 32% das mulheres concordam com essa afirmação: “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”, enquanto 63% das mulheres e 51% dos homens discordam.
Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), enfatiza que esses números indicam que há uma tendência persistente de responsabilizar as próprias mulheres pela violência sexual, seja por não se enquadrarem em padrões comportamentais considerados “apropriados” ou por usarem roupas consideradas provocativas.
A expressão “violência sexual” engloba uma variedade de formas de agressão que infringem a dignidade e a liberdade sexual de uma pessoa, como assédio, exploração sexual e estupro. Nesse contexto, incluem-se também comentários, “piadas” e “cantadas” que perpetuam um ambiente de hostilidade.
Imagem: Reprodução/TV Globo