Você sabia? Fazenda no Ceará acabou se tornando cidade fantasma

Imersa no sertão dos Inhamuns, Ceará, a cerca de 500 quilômetros de Fortaleza, encontramos Cococi, uma localidade que se estende por um vasto território, em grande parte dominado pelas terras da renomada família Feitosa. O lugar, que já foi um pequeno município, carrega agora o misterioso título de cidade-fantasma, abrigando apenas seis moradores fixos em sua área central.

História política e social de Cococi

A história da cidade começa há mais de 300 anos, no período colonial brasileiro, marcada pela chegada dos irmãos Feitosa, pioneiros na criação de gado na região. Ao longo dos séculos, Cococi ganhou certa prosperidade, chegando a ser elevada à condição de município no século XX. No entanto, essa condição durou pouco. Em 1970, Cococi foi reintegrada ao município de Parambu, assumindo sua atual condição de distrito.

No breve período como município, Cococi foi administrada quase que exclusivamente pela família Feitosa. O domínio não era apenas territorial, mas também político, com membros da família ocupando as cadeiras de prefeito até o terceiro e último gestor, que era pai do primeiro prefeito e tio do segundo. Esse monopólio foi um dos motivos que levaram à sua extinção como município, sublinhada por um relatório do Tribunal de Contas que apontava a gestão pública local como uma extensão dos patrimônios familiares.

Como Cococi transformou-se em uma cidade-fantasma?

O declínio de Cococi iniciou-se ainda antes da sua extinção oficial como município. A escassez de chuvas e as dificuldades econômicas motivaram um êxodo gradual dos seus moradores. Hoje, na área que já foi pulsante, restam apenas algumas construções, como a igreja tricentenária de Nossa Senhora da Conceição, um símbolo de resistência que ainda organiza anualmente uma festa religiosa que traz ex-moradores e visitantes, revivendo um pouco do espírito comunitário do lugar.

Apesar do esvaziamento, Cococi não está completamente esquecida. Os eventos em homenagem à Nossa Senhora da Conceição atraem pessoas de várias partes do município de Parambu e até de cidades vizinhas. Maria Clenilda, uma das poucas moradoras remanescentes, destaca como esses eventos trazem alegria e uma sensação de comunidade para a área, transformando, mesmo que por alguns dias, a rotina da cidade-fantasma.

A resiliência de Cococi, suas paisagens que contam histórias de um Brasil colonial e a vida de seus poucos habitantes atuais são páginas vivas da história brasileira que persistem, apesar das adversidades. Esses fatores, combinados com a beleza rústica e o simbolismo de suas ruínas, conferem a Cococi um potencial turístico ainda inexplorado, que poderia ajudar a preservar e valorizar seu legado histórico.

A situação de Cococi reflete um quadro maior de desafios que muitos pequenos municípios brasileiros enfrentam, onde a história e as memórias resistem mesmo quando a modernidade e as políticas públicas parecem deixá-los para trás. Um olhar mais atento para estas cidades, respeitando e valorizando suas histórias, pode ser o primeiro passo para a recuperação não só econômica, mas cultural e social de muitos lugares como Cococi.